domingo, outubro 24, 2004À parte: à parte de todo o desastroso, infeliz e preocupante panorama radiofónico português continua a excepcional Antena 3. Não é a priemeira vez que escrevo sobre a qualidade das suas transmissões e se não é a primeira vez (nem a segunda) é porque existe versatilidade. Está-se sempre a superar e a superar as expectativas dos ouvintes (pelo menos as minhas). Na nova grelha conta com ainda mais programas de autor, aqueles onde realmente só há música boa, onde se pode ouvir tudo o que neste país anda à margem da indústria discográfica e de espetáculos. Assim, por dia e na 3, podemos ouvir 5 programas de autor de seguida: 21-22 POrtugalia, 22-23 Coyote, 23-24 Indiegente, 24-01 Grande Sofá e 01-02 Alta Tensão. Isto só vem confirmar a distância de anos-luz que a 3 mantêm da concorrência (se é que lhes podemos chamar assim) e que embora essa diferença de qualidade seja notória, a inovação e trabalho contínuo são uma realidade. Mais programas de elevadíssima qualidade se ouvem por aqueles lados mas é uma questão de manter o rádio sintonizado em 100.4 (no meu Porto) e ir descobrindo tudo o que vai acontecendo na melhor rádio portuguesa. (E isto não é um anúncio publicitário pago pela RTP é apenas e só uma opinião. Claro que se alguém quiser pagar a Pub. a gerência não se diz que não!)Alexandre 01:04
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sábado, outubro 23, 2004Revolução?: lembro-me que nos meus tempos de chavalo irrequieto há uns sete ou oito anos atrás a minha geração estava então assolada pelas boys and girlsband. Além destas o que os putos na altura cantarolavam eram cenas tipo Kelly Family, Bryan Adams, Celine Dion e pouco mais... Visto isto fique muito animado, feliz mesmo, quando numa das muitas viagens de autocarro que faço ouvi uns petizes no lugar por detrás do meu a chilrearem alegremente o refrão "Listen to the sound on radio..." dos Plaza. Fiquei realmente espantado não só por ouvirem e cantarem música de qualidade mas porque cantavam em inglês razoavelmente bom para a idade. Ora bem ainda há ursos neste país (e nem vou falar de um tipo que é jurí nos ídolos cromos da sic) que pensam que o tugas devem é cantar português porque é a nossa língua, bla, bla, bla... Muito honestamente prefiro ouvir a criançada a cantar Plaza a ter de levar com qualquer artistazeco pimba que faz rimas do género "Por te amar eu vou pró mar!" só porque o faz em português! Os tempos estão a mudar e parece-me que os tempos da mediocridade, do pior que há na música portuguesa vão acabar por passar essencialmente graças à emergente quantidade e qualidade de nova música que se vai fazendo... Imagine-se se toda essa nova qualidade fosse devidamente divulgada. Let's wait and hope not to bleed...Alexandre 23:26
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domingo, outubro 10, 2004Okupas: por vezes encontram-se grandes ideias e iniciativas de grande qualidade onde menos se espera. A partir de uma ideia arrojada, um conceito completamente underground, nasceu um projecto que realmente mostra que há gente com vontade de mudar as "coisas". Foi em Sta Maria da Feira, ao lado do cine-teatro António Lamoso. Não, não estou a falar do Gente Sentada mas sim de algo muito mais ligado ao submundo cultural. Uma iniciativa de um grupo: http://culturaemmovimento.blogspot.com . O projecto consiste em ocupar edifício antigos e abandonados e transformá-los por alguns dias em locais onde se pode observer e ouvir arte. Pintura, fotografia, poesia e música. O espaço embora algo alterado conserva todas as características originais e foi mesmo possível ver os montes de facturas, sacos de adubo e ração que por lá se amontoavam (era uma antiga cooperativa agrícola). Quando entrei ficou logo impressionado e fui teletransportado para um daqueles micro-espaços londrinos onde actuavam Sex Pistols nos anos 70. Uma salinha cheia de gente com uma banda "aconchegada" ao fundo que fazia um som que muito me agradou, até porque era Punk, exactamente o tipo de sonoridade que tal espaço pedia. Chamavam-se Baton. O ambiente que criaram foi realmente deslumbrante e todos os pedacinhos de arte que se espalhavam pelas paredes fizeram-me desejar que tal iniciativa durasse para sempre e não fosse algo tão efémero dependente de autorizações. Espero que estas iniciativas continuem mesmo que em espaços diferentes do deste fim-de-semana.Alexandre 22:36
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sexta-feira, outubro 08, 2004Bálsamos AuditivosLocal: Palco Singer/Songwriters, Festival Paredes de Coura 2004 Às 20 horas dessa terça feira, o dia 1 propriamente dito do festival Paredes de Coura, ainda estava um pouco abalado da experiência da noite anterior (ver o toldo de um palco desabar com a intensa pluviosidade não é algo que se veja todos os dias e em qualquer lugar, convenha-se) e dessa tarde. Nunca roguei tantas pragas a um santo como o fiz a São Pedro naquele dia e, por mais que me envergonhe de tal facto, a verdade é que atesta a dimensão da frustração de um festivaleiro que, para se ter uma ideia da sua, quiçá, ingenuidade, só tinha na sua mala uma sweater... Como é perceptível a minha disposição não era das melhores naquela altura o que até veio reforçar o efeito redentor e arrebatador que foi o concerto das divinais CocoRosie. Teve o simultâneo efeito de um banho quente e de um caldo verde (meus únicos desejos então), com esporádicos arrepios à mistura. Desde a deliciosa ironia de "Jesus Loves Me" até à falsa candura de "Terrible Angels", todo o concerto me agarrou à frente daquele palco e me fez levitar acima da lama que me detinha. Poderoso e de uma fragilidade comovente, assim se pode descrever este sublime momento. A presença de Devendra Banhart na última canção acabou por se revelar mera curiosidade, tão ofuscado foi por estas angélicas/diabólicas (riscar o que não interessa) irmãs. Ainda hoje me interrogo se não terá mesmo sido o melhor concerto do festival. Segundo dia, sobe Josh Rouse ao palco principal (o palco que por direito lhe deveria pertencer, mas só por teimosia da chuva tal aconteceu). Concerto simplesmente exemplar e de uma regularidade impressionante, repleto de excelentes canções cantadas com uma entrega arrebatadora. "Directions", "Love Vibration", "Come Back", "Under Cold Blue Stars", "Miracle", "Feeling No Pain"... todas canções fantásticas, viciantes até mais não, estandartes do prazer associado à música. O menor aparato instrumental permitiu que os temas fossem embrulhados num registo mais acústico e intimista, favorecendo as respectivas letras, de uma eficácia a toda a prova. Excelente aperitivo para os concertos que dará por volta de Dezembro em território nacional, finalmente num palco directamente proporcional ao seu vasto talento. Ao terceiro dia, Mark Eitzel deu mais uma prova irrefutável que há vida depois dos American Music Club (se mais seriam necessárias... basta escutar discos como West ou Caught In A Trap para se compreender tal facto). Um maravilhoso concerto, que muito gozo me deu assistir, mantendo o altíssimo e regular nível qualitativo definido pelos Cantautores que o precederam e finalizado com um inebriante tema do novo álbum dos American Music Club: Home. O Festival Paredes de Coura, edição 2004, iniciava já o princípio do seu fim. Mas sem antes Old Jerusalem provar porque razão o seu disco de estreia, April, é um dos melhores discos de 2003 e da colheita de início de século da música portuguesa. Recheado de Canções que apetece ter na mesinha da cabeceira, a sussurar-nos ao ouvido antes de adormecermos... Canções que ao vivo ganharam uma extraordinária dimensão, humana e carnal, muito responsabilidade da magnífica voz de Francisco Silva que, não obstante a sua timidez, se revelou um eficaz mestre de cerimónias e exemplar apresentador dos seus temas, ao bom estilo dos Storytellers. Canções que fora de um ambiente intimista souberam respirar e crescer bem. Em suma, autênticas chaves de ouro que fecharam o cartaz dos Singer/Songwriters. Iniciativa louvável, já com repercussões registadas no Festival para Gente Sentada e que provam que palcos mais "alternativos" só enriquecem o cartaz de um qualquer festival. Afinal, a epidemia Nu-Metal foi só um mau e passageiro sonho... Haja esperança. Anónimo 22:43
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segunda-feira, outubro 04, 2004Incoming TelegramEncontro-me viciado stop na audição de um dos melhores discos stop deste profícuo ano stop Funeral assim se denomina stop The Arcade Fire os responsáveis stop espantoso, magnífico, hipnotizante stop celebração simultânea da Vida e da Morte (não serão gémeas siamesas, afinal?) stop excelentemente escrito, tocado, elaborado e ainda soa melhor ouvido stop Escutem-no, não o ouçam somente stop ou um dos acontecimentos musicais de 2004 estará simples e vergonhosamente a passar-lhes ao lado stop fim de mensagem |